Sejam bem-vindos a esta pequena célula do enorme organismo que é a educação. Sejam bem-vindos a este pequeno ponto atômico de partida de uma trajetória curva ou retilínea, repleta de outros pontos mais, ligados unicamente pelo elo de seus passos. É meu desejo esclarecer que a visão que vocês terão deste lugar, na chegada ou na despedida, depende tão somente da sua maneira de enxergar a vida. Não se preocupem, sabemos que é sempre tudo distinto daquilo ao que estiveram acostumados, mas preferimos causar desconforto. Estranharíamos se se sentissem em casa, pois seria um indício sério de que nossa postura precisa ser revista e de que o novo envelheceu.
Não se aborrecem em terem vivido metodicamente todos estes anos até aqui da mesma maneira? Os finais de semana sempre iguais, as segundas-feiras chatas como sempre, após as missas e cultos as mesmas pessoas na pracinha do “redondo”. Todas como em uma colméia, distribuídas em seus próprios “guetos” e alheias ao resto. Uma colméia de gente organizada de acordo a prepotência hierárquica de cada um. As “abelhas-rainhas” belas, atraentes e com pouca roupa, menos ainda têm em seus cérebros, se é que eles existem. Os “zangões” sempre em bando desfilam uma febre de músculos e virilidade, gostaríamos que sua maturidade tivesse o tamanho de seus bíceps. As “operárias” observam tudo e sonham em vão com o dia em que serão como os zangões e as rainhas, pois se acham inferiores e incapazes, mas detêm um poder adormecido que as diferencia dos outros. Ah como sonho com o dia em que as operárias acordem e se dêem conta de que são superiores... Pois todos estes estão presos numa devoção estranha e viciante de darem uma, quatro ou dez voltas no mesmo lugar e sempre acabarem no ponto de origem ( é a volta olímpica no “redondo”). Um segredo: “o redondo” nem é tão redondo e existe vida além do arrocha e do rebolation. É incrível como se contentam com tão pouco...Vocês querem reprisar a novela da vida de seus pais? Ou querem tentar escrever seu próprio enredo? Esta micro-município não é nem o umbigo do mundo. Este planeta tão imenso se dissolve e se perde no leite da Via Láctea. Vocês vão passar o resto da vida servindo o arrocha e no alto de toda ignorância achando que isto é que é musica ou vão pelo menos querer descobrir o que é cultura de verdade? Vão continuar achando que “beber, cair e levantar” é o melhor estilo de curtir a vida? Um dia se cai e não se levanta mais...
Então acostumem-se aos mesmos finais de semana, as mesmas pessoas, os mesmos trajetos em volta do redondo (que nem é tão redondo assim...) a mesma escola todos os anos, e a série quase só muda a letra que a acompanha. Vão se acostumar a ouvir seus pais falarem do filho do vizinho que tem um diploma no canudo e um certificado na parede, que já é “doutô” e cresceu na vida, no intuito de fazer vocês se sentirem uns fracassados. O encanto um dia vai acabar... Com o tempo se começa a enxergar os defeitos terríveis daquelas pessoas tão legais de antes. Com o tempo, como nós, vocês vão se perguntar quem diabos deu o nome de “redondo” a um lugar que geometricamente nem é redondo. Vão achar inútil dar inúmeras voltas numa noite e parar sempre no mesmo lugar (cuidado para que suas vidas não se tornem reflexo disto). Com o tempo vocês se enchem de morar com seus pais, pois sempre estão a te cuspir na cara que o filho do vizinho tem diploma no canudo e que ele só volta aqui de ano em ano para visitas breves com seu carro esporte do ano. Com o tempo esta “imensa” cidade vai parecer ter diminuído... Com o tempo as letras de seu arrocha e de seu rebolation favorito vão parecer medíocres... O “ICE” vai te dar náuseas, o “TCHUCO” não mais terá nada de gostoso e o LOBO MAU coitado, estará em algum asilo sem ter comido nem a Chapeuzinho e nem ninguém. As missas vão ser sempre rezadas do mesmo jeito e os cultos são um pouco diferentes, mas as pessoas não se convertem e vivem a apontar os crimes alheios sem se darem conta das lápides escondidas no quintal. Quando este tempo chegar pode ser muito tarde...
Sejam senhores feudais de sua própria história, sejam físicos de suas próprias teorias, escrevam vocês suas memórias, inventem sua própria gramática e quando alguém quiser resumir o mundo a esta cidade, ofereça a este a sua geografia. Lembre-se que viver é como andar de bicicleta. Caímos para aprender, mas nada se compara a sensação de sentir o vento beijando seu rosto e de ter o controle de sua bicicleta. Vocês podem ter o controle de suas bicicletas, m escrever um final diferente em sua literatura, basta começar admitindo que: EXISTE VIDA ALÉM DO ARROCHA...
Por: Jônatas S. Pereira.