sexta-feira, 13 de maio de 2011

13 DE MAIO – DIA NACIONAL DE COMBATE AO RACISMO

"A LIBERDADE VEIO SEM ASAS E SEM PÃO”

O engodo político mascarado e a liberdade negada do 13 de maio foi entoado por Oliveira Silveira, em 1970 (anos de chumbo da ditadura militar) no poema “Banzo - Saudade Negra”:

Treze de maio traição,

liberdade sem asas e fome sem pão

Liberdade de asas quebradas

Como ........este verso.

Liberdade asa sem corpo:


Treze de maio – já dia 14

o Y da encruzilhada:


gritante:

pedir, servir, calar.

Os brancos não fizeram mais

que meia obrigação

O que fomos de adubo, o que fomos de sola

o que fomos de burros cargueiros,

o que fomos de resto, o que fomos de pasto

senzala porão e chiqueiro, nem com

pergaminho

nem pena de ninho, nem cofre de couro

nem com lei de ouro.

que o que temos nós lutamos, para

sobreviver

e também somos esta pátria, em nós ela

está plantada

e então vamos rasgar, a máscara do treze

para arrancar a dívida real, com nossas

próprias mãos.

DIVERSIDADE ETNICORRACIAL

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

soberania do povo

A soberania do povo!

Antonio Nunes de Souza*

Como previmos, as mudanças inesperadas nos resultados das urnas sempre foram surpreendentes, fugindo as pesquisas, já que as pessoas mudam seus pensamentos apenas levados por uma opinião, um boato surgido, uma mentira com cara de verdade, ou mesmo pelo seu estado de espírito no momento de digitar os números dos candidatos que foram escolhidos, mesmo com bastante antecedência. E, por essas razões, a soberania do povo terá sempre que ser respeitada sua vontade, pois, esse é um ato que é denominado de democracia.

Lógico que essas atitudes não cabem nas pessoas que fazem análises dos projetos apresentados, conhecem a história dos candidatos, verifica as possibilidades de uma continuação de um trabalho bem executado pelo governo que sairá, a necessidade de haver mudanças radicais para melhorar, analisar o partido que está competindo se no passado apresentou algo substancial ou apenas bravatas de planos e projetos e, principalmente, a maneira ética no comportamento com seus adversários, não descambando para ofensas e acusações descabidas e inexistentes, com a finalidade de confundir os eleitores menos informados, beneficiando-se assim com resultados que, na verdade, não merecem ou mereciam. Esse detalhe, infelizmente, foi o cavalo de batalha de um dos candidatos!

A lisura de uma disputa é um comportamento preponderante em todas as áreas, ocasião que se devem apresentar suas capacidades técnicas, profissionais, conhecimentos, equipe qualificada e entrosada para a efetivação dos projetos, possibilidades reais de dar continuidade aos avanços implantados e começados. Sendo de grande valia e importância que seja levado em consideração, se o candidato é do partido do governo que está saindo, evitando assim uma mudança radical de ministérios, secretariados, etc., que, consequentemente, pela triste e peculiar retaliação dentro da política e os desejos individuais de cada um, deixam os projetos pelos caminhos para que não sejam, no futuro, aplaudidas pelo povo, dando méritos aos seus opositores. Nessa última particularidade, infelizmente, tenho visto ao longo de toda minha vida!

Certamente veremos uma série de acordos e parcerias entre os partidos, todos cortejando a Marina, que conseguiu uma gama respeitável de votos e, obviamente, terá um peso nos resultados. Mas, como sempre dizemos, nunca devemos categorizar alguma fidelidade na hora de teclarem a urna eletrônica. Que vença aquele ou aquela que for melhor para o Brasil. Mas, que seja uma disputa descente, com classe, cheia de promessas que possam ser realizadas e não enganações de palanques, olhem quem já está realizando e olhem também para quem está apenas prometendo. Nessa hora de escolha é importante se apegar ao palpável e concreto, tendo cuidado com o incerto abstrato! *Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@ hotmail.com)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Estado de flor

Não sei bem
Seja lá como flor
Estou plantado em sua vida.
Meus tons aurora suas manhãs
De inexplicáveis cores.
Não sei bem
Seja lá como flor
Beija-me.

Messias Nunes

Condição


Sou prostituta
Ofereço corpo, alma e vida
Núpcias insanas que dilaceram o peito
Excitam partículas que me compõem.

Pelas avenidas a espreita de objetos
Transmudam em intimidades.
Capturo corpos em liberdade
Para torná-los livres.

Curvas, choques, desassossego
Imoral e desumano.
O avesso, humano e trivial.

Em partes de poeira
Um universo de palavra me descreve
Sendo errante e sublime



Sou prostituta
O leito é pó, árvores e riachos
Um instante eterno de prazer
A partícula de tempo irrepetível

Gota exposta ao calor
Dissolvido poeta.


Prof. Messias Nunes

Despertar


Sempre espreitei grandes mistérios
De repente numa suavidade incomum
Teu dedo tocou meu rosto.
Minha deusa...
Isto é o meu corpo
Tomai e comei!

Messias Nunes

Busca incurável

A busca incurável de uma palavra certa que traduza um mundo numa gota. Sempre incomodava, em minha infância, aquelas gotas que em dias de chuva venciam o frágil telhado da minha casa. Era um corre-corre, vasilha para todo lado e o repetitivo som que perdurava, mesmo, quando o sol ressurgia. Novas vasilhas eram solicitadas, pois as discretas gotas haviam se acumulado... Não sei para os adultos, mas em meu olhar de criança tudo era música, os objetos espalhados pela casa eram instrumentos musicais, melodia que agitava meu corpo. As gotas eram pacientemente discretas, embora, lá fora as nuvens pareciam chorar, seus movimentos traziam uma horrível beleza, a força e o choque faziam romper as cordas vocais de algum deus.
Aqui dentro era o oposto, um recorte de tempo, mais lento, mais silencioso e mais meu... Era construído pelas gotinhas d’água. Cada uma era um mundo feito de poesia e significados. As gotas são a grande metáfora das palavras que nascem dos turbilhões de experiências, se acumulam e se vão como enxurradas. Os trovões e os relâmpagos exibem aos homens um certo poder. Mas as gotinhas não, ouvir sua melodia, os significados por trás do significado, é próprio da criança. O poeta não se apropria dos turbilhões de palavras, não se apropria de coisa alguma, apenas é impelido pela beleza estridente e silenciosa das coisas. Uma gota para ele é suficientemente incurável. O torna triste, alegre... (E não o torna, apenas o revela) já que o põe em contato com a existência. Esta experiência às vezes o invade, vinda de não sei aonde, enviada por ... Dizer é o labor do poeta. Por isso, está condenado a palavra. Dizer em gota o que sente muitas vezes em tempestade...

Prof. Messias nunes

Haikai


O céu negro
piscou para mim
A lua era minguante.
________________________

Por trás da vidraça o
céu cortinado chora.

_________________________
O vento ondeia o galho
enquanto o pássaro surfa
cortando as manhãs
_____________________________
Ainda é inverno.
Saudade das tardes tristes de amor.
___________________________________
Sinto-me reduzido
ao quintal da minha
infância, lá tudo não era.
_________________________
Prof. Messias Nunes

E os pensamentos voam


Os pensamentos voam livres sem lugar para repousar. Sempre quis ouvir os barulhos dos seus movimentos. Pensamentos são assim, estão sempre em conflitos, parecem até multidões que não se entendem, que se comprimem, um coliseu de idéias. Algumas enamoradas pelas cumplicidades, outras indiferentes e divorciadas. Cabeças não me dizem nada de harmonioso e celestial. Acho que o inferno é na verdade uma metáfora das cabeças. Foi pensando nelas que as religiões inventaram os demônios com seus dentes afiados, chifres e rabinhos. Os pensamentos são povoamentos de deuses e demônios que se lambuzam em orgias.Sempre me ensinaram a pôr ordem nas coisas. A arrumar, empilhar os objetos para causar uma boa impressão, mas sei que minha arrumação continua desarmoniosa. Hoje, depois de muito esforço contrário, resolvi viver em paz com o caos. Esta reprodução prática e imperfeita da minha mente abstrata e errante.Está ai o sentido, temos que evitar a todo custo sua manifestação (dizem alguns). A ordem depende dos pensamentos domados e que por isso, deixados de ser pensamentos. Não queremos correr riscos. Pensar é perigoso. Sempre haverá conselheiros que nos ensinará a não sermos nós mesmos.A corrente que prende estes deuses e demônios e não os deixam tranformar-se em palavras, chama-se obediência, a menos que esta seja resguardada pela própria liberdade do pensar. O pensamento precisa das palavras para ser livre. As palavras são asas que conduzem os pensamentos lá onde o corpo finda.Caminhando pelas avenidas da cidade, não sou eu. São meus pais, amigos de infância, colegas, casas, brincadeiras, brigas, objetos, cão, gato, lugares em que passei, tudo isso em choque com o agora. Pensamentos me fazem múltiplo e singular.Correr para que, se o que me espera é uma bengala? Imaginava assim há algum tempo atrás. Continuo pensando que a agitação, a vida frenética é doentia e por isso desnecessária. Mas, por outro lado, contemplando a face de alguns privilegiados velhinhos, entendi que não vamos ao encontro de um simples apoio ao nosso corpo cansado. Velhice é tempo de memória e esquecimento, de retomar a criança que estava prisioneira. Sou um amante dos velhinhos, semblantes cansados, sentados nos pátios, sem pressa, tendo por companhia um cafezinho, cigarro de palha e o pôr-do-sol....Sinto-me reduzido ao quintal da minha infância, lá tudo não era.É isso, talvez o que acontece com estes homens. Eles vivem uma nova percepção da vida, retornam as essências, não tem mais tempo para as superficialidades.Não me canso de olhar as fotografias de Mário Quintana. Nelas, vejo que o pensamento não envelhece, apenas me surpreende e as vezes me faz ri.Lindo estava meu avô aos 86 anos. Alguns diziam que ele estava caducando. Separou-se de vó, pois não suportou sua traição com um dito artista de novela, o charmoso Lima Duarte. Amava a ponto de não suportar dividi-la com ninguém. Alguns se separam por amor. Confundia sempre as folhas das bananeiras com os pássaros. Apontava para o os passarinho negros no céu e ninguém mais via. Só os seus olhos de criança. E aquela lourinha que animava as criançadas pela manhã, estava sempre lhe assediando. Pobre poeta ninguém o entendia. Por mais que seus filhos contestassem e tentassem orientá-lo, a verdade era uma só, a que ele via. Seu corpo necessitava de auxílio, mas sua cabeça esquecida e criadora continuava rebelde. De vez em quando os deuses e os demônios escorregavam em suas palavras para habitar outros seres. Pensamentos são assim, não morem. Ainda hoje, ouço suas seus movimentos a me importunar. Embora, meu avô já tenha partido.
Messias Nunes
www.messiasessencias.blogspot.com

Canibalismo amoroso


Algumas frases tatuaram minha adolescência. Mesmo as menos aceitas. Sentia-me livre quando me juntava aos meus amigos, distantes daqueles que, a todo custo, tinham a incumbência de moralizar nossas conversas. Perto dos representantes legais da moral, sempre se ouvia um “cala boca”, ou um “se respeita”.Nos momentos de encontros partilhávamos as poucas experiências que tínhamos e as que desejávamos ter. Entre um verbo e outro, o “comer” se destacava. “Comi...”, “Vou comer...” (Adolescentes têm esta capacidade de ressignificar as palavras).Em minha concepção, “comer” expressa como nenhum outro conceito o impulso sexual e principalmente o sentimento de amor entre duas pessoas. Se Freud fosse contemporâneo à minha adolescência, sem dúvida, ele teria incorporado em seus estudos psicanalíticos esta definição: o homem vive um constante estado de canibalismo amoroso.Para a melhor compreensão do significado comer, resolvi recorrer ao dicionário, que diz: Tomar alimento. Introduzir. Consumir. Mas, podemos dilatar com olhos poéticos seu sentido. Comer é saborear, ou seja, pôr sabedoria nos atos. Degustar e envolver-se por inteiro. É perder o outro dentro de si. Assim, aprendi que a intima relação entre duas pessoas não começa na cama, mas na cozinha. A cozinha é a grande metáfora para os apaixonados. Lugar da poesia, dos pretextos e das entrelinhas. Adélia Prado, em um dos seus poemas deixa escapar este cotidiano mistério:...É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil...” O silêncio de quando nos conhecemos atravessa a cozinha como um rio profundo...Somos noivo e noiva.A cozinha é o lugar que o sagrado se manifesta (mas tudo é sagrado). Cantinho das epifanias. Objetos, legumes, aroma, manifestação do deus Eros. Os nomes são transmutados e sugestivos. Tudo exposto, beterraba, rabanete, cenoura, chuchu, mamão, cabo da panela, é sem dúvida, lugar quente. Uma deliciosa metáfora.Por fim, o jantar à luz de velas numa noite fria de inverno. Para completar, a poesia de Alberto Caeiro:Pega-me tu ao coloLeva-me para dentro de tua casa.Despe meu ser cansado e humanoE deita-me em tua cama.É estranho está perto de alguém que amamos. Parece existir uma presença que escapa, que foge das mãos. Os gestos de carinho dão espaço para o que poderia ser. “Um contentamento descontente”. Da vontade de comer...De manhã, para iniciar o dia, uma prece e uma leve leitura do Cântico dos cânticos.Da janela avistamos às trepadeiras se alimentando do muro.Sei que apesar de tudo... A vida é um enamoramento.
Prof. Messias Nunes