sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Busca incurável

A busca incurável de uma palavra certa que traduza um mundo numa gota. Sempre incomodava, em minha infância, aquelas gotas que em dias de chuva venciam o frágil telhado da minha casa. Era um corre-corre, vasilha para todo lado e o repetitivo som que perdurava, mesmo, quando o sol ressurgia. Novas vasilhas eram solicitadas, pois as discretas gotas haviam se acumulado... Não sei para os adultos, mas em meu olhar de criança tudo era música, os objetos espalhados pela casa eram instrumentos musicais, melodia que agitava meu corpo. As gotas eram pacientemente discretas, embora, lá fora as nuvens pareciam chorar, seus movimentos traziam uma horrível beleza, a força e o choque faziam romper as cordas vocais de algum deus.
Aqui dentro era o oposto, um recorte de tempo, mais lento, mais silencioso e mais meu... Era construído pelas gotinhas d’água. Cada uma era um mundo feito de poesia e significados. As gotas são a grande metáfora das palavras que nascem dos turbilhões de experiências, se acumulam e se vão como enxurradas. Os trovões e os relâmpagos exibem aos homens um certo poder. Mas as gotinhas não, ouvir sua melodia, os significados por trás do significado, é próprio da criança. O poeta não se apropria dos turbilhões de palavras, não se apropria de coisa alguma, apenas é impelido pela beleza estridente e silenciosa das coisas. Uma gota para ele é suficientemente incurável. O torna triste, alegre... (E não o torna, apenas o revela) já que o põe em contato com a existência. Esta experiência às vezes o invade, vinda de não sei aonde, enviada por ... Dizer é o labor do poeta. Por isso, está condenado a palavra. Dizer em gota o que sente muitas vezes em tempestade...

Prof. Messias nunes

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